ANÁLISE DA INTERTEXTUALIDADE ENTRE O VÍDEO DA MORTE DO TENÓRIO, REMAKE DA NOVELA PANTANAL, E IMAGEM CRÍTICA SOBRE O CORTE DE VERBAS DO MEC
Neste primeiro momento, apresentaremos um quadro analítico expondo como ocorre a intertextualidade proposta entre o vídeo e imagem, se esta ocorre de maneira direta ou indireta, e, em seguida, descreveremos cada uma das referências.
Bazerman (2021) elenca seis categorias de intertextualidade, a saber, citação direta, citação indireta, menção a uma pessoa, comentar ou avaliar uma declaração, uso de frases ou objetos reconhecíveis para se associar a uma pessoa ou a um grupo de pessoas e usar linguagens e formas para estabelecer discussão com outras pessoas. As duas últimas categorias acontecem de modo mais implícito e, em razão disso, o autor situa-as em domínios da interdiscursividade.
Para compressão melhor, a seguir descreveremos a cena do vídeo bem como da imagem. O vídeo retrata a morte do personagem Tenório, do remake produzido pela Rede Globo da novela Pantanal, no ano de 2022, em que vemos uma cena ao entardecer, próximo ao rio. O personagem é morto por meio de uma zagaia, que é uma espécie de lança, empunhada por outro personagem da novela, o Alcides. No momento da morte é possível perceber a forma como os dois personagens se posicionam na cena, bem como os elementos em volta, como as árvores e os arbustos. Partindo desta cena, a imagem analisada usa cores amareladas ao fundo, as sombras dos personagens e elementos extras que, embora não estejam presentes no vídeo, possuem propósitos específicos, que veremos a seguir.
Em relação aos elementos analisados e dispostos no quadro analítico, no que diz respeito aos personagens e objetos, caracterizamo-los como indiretos, uma vez que os personagens não são os mesmos da novela, que, conforme mencionado, trata-se do personagem Alcides e do Tenório. Os objetos também se configuram como indiretos, pois no vídeo temos uma zagaia e na imagem, uma tesoura. Embora sejam objetos diferentes, eles se assemelham por executarem funções parecidas, que explicaremos a seguir.
No tangente aos elementos visuais, como cor e cenário, consideramos que a intertextualidade neles presentes ocorre de forma direta, se levado em consideração que a cor usada na imagem, representa o entardecer, em tons alaranjados, remetendo ao cenário da novela Pantanal, onde se passa a cena retratada, em uma zona de mata, em área aberta, ao entardecer.
O enredo do vídeo retrata a morte de um dos personagens da novela e na imagem vemos uma alusão a esse acontecimento. Assim, caracterizamos como intertextualidade direta, uma vez que ambos seguem o mesmo enredo da história original, por abordar a morte de algo ou alguém, mesmo que apresentem algumas diferenças, que são vistas como formas de adequação para o contexto. Em suma, no vídeo temos a morte de um personagem e na imagem temos um corte de verbas, numa determinada instituição pública, o MEC, que também representa uma morte, neste caso, simbólica.
Bazerman (2021), elenca a categoria de menção a pessoas, que depende da familiaridade dos leitores para assim reconhecer a fonte mencionada. Essa menção acontece de forma indireta, vista na imagem, uma vez que é nela inferimos quais personagens estão sendo retratados, em razão do uso de sombras, sem aparecimento explícito dos personagens. Assim, de acordo com os elementos usados, sobretudo na sombra daquele que segura a tesoura, vemos a menção a figura do presidente da república.
A forma pela qual inferimos os personagens retratados na imagem, identificamos o enredo, bem como o simbolismo presente nela, apoia-se nas duas últimas categorias elencadas por Bazerman (2021), que se situam no domínio da interdiscursividade. Para isso, o leitor aciona outros discursos, sustentados pela memória discursiva de cada sujeito, que tornam possível identificar todos esses fatores. Para compreender a morte simbólica representada na imagem, que dialoga com a morte do personagem Tenório, recorremos as condições de produção da imagem, feita durante o governo do atual presidente Jair Bolsonaro, que nos remete aos cortes feitos no MEC, representada na imagem pelo uso da tesoura, como o instrumento responsável por caracterizar este tipo de morte, no último semestre de 2022. A forma de identificação do personagem na imagem acontece pelo uso da faixa presidencial, nas cores que simbolizam o Brasil, nos fazendo inferir que o personagem que empunha a tesoura é o atual presidente da república. O MEC, na imagem, é simbolizado pelo segundo personagem, que comparando ao vídeo, é aquele que sofre o ataque. Para a identificação do segundo personagem, o autor da imagem usa recursos linguísticos situados em uma das pernas que ficam aparentes na imagem.
Toda a análise realizada, sobretudo as menções e o contexto de produção da imagem, que simboliza os cortes no MEC, são apoiadas na memória discursiva dos sujeitos que tornam possíveis os discursos, bem como silenciam outros, sendo possível essa compreensão. Assim, vemos a relação entre os dois conceitos, desenvolvidos sob ótica de Bazerman (2021), intertextualidade e interdiscursividade, que tornaram possíveis a confecção da imagem, dialogando com o vídeo, bem como compreendê-la.
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