O LETRAMENTO VISUAL NO LIVRO DIDÁTICO DE LÍNGUA PORTUGUESA, 6° ANO, DA COLEÇÃO ACERTA BRASIL
O Letramento Visual surge dentro da perspectiva dos Multiletramentos, que contempla as diferentes formas de linguagem na produção de sentidos, que diante das sociedades contemporâneas e com os diversos recursos tecnológicos ao nosso dispor, a abordagem somente a linguagem escrita ou falada torna-se limitada no ensino de Língua Portuguesa.
Com a perspectiva do Multiletramentos, o termo já existente de Letramento precisou ser ampliado, passando a se pluralizar. Assim, novas modalidades de práticas de leitura e escrita precisaram ser estimuladas, em razão da nova inserção tecnológica, em que o foco visual também passa a ocupar espaço (SILVINO, 2014). Justamente dentro desse escopo que se delineiam as discussões em torno do letramento visual.
Cada vez mais estamos rodeados de imagens e a escola deve ser um dos espaços que crie condições para que os alunos compreendam todos os aspectos disponíveis nas imagens, sobretudo, ao relacionar as diferentes formas de linguagem. Então, uma ênfase maior a parte visual precisou ser dada, para que os leitores compreendam que os recursos visuais fornecem pistas para a compreensão do todo (BURATINI, 2004).
Instigar o letramento visual nas escolas é um passo para incentivar o pensamento crítico nos alunos, uma vez que as imagens, fotografias e diversas outras fontes visuais se configuram como objetos de análises, não diminuindo o potencial a capacidade imaginativa dos alunos.
Pensando a respeito da forma como o letramento visual é
abordado no livro didático de Língua Portuguesa, nos propomos analisar o
aspecto visual explorados em algumas atividades propostas. O livro escolhido é
da coleção Acerta Brasil, 2° edição do manual do professor, 6° ano do ensino
fundamental – anos finais, publicado pela editora Ártica, no ano de 2020.
De modo geral, o livro escolhido é atrativo no que diz
respeito a imagens e cores, e distribui seus capítulos em missões a serem
cumpridas. No início de cada missão, são apresentados gêneros distintos para
dar pistas aos alunos sobre qual temática a ser trabalhada. Na missão 1 temos a
apresentação de duas tirinhas seguidas por propostas de atividades. Vejamos a
seguir.
Procópio (2007) nos diz que os conhecimentos prévios dos leitores podem ser ativados através de elementos não visuais incluídos no corpo do texto que dizem respeito ao assunto a ser tratado. No entanto, com a sugestão de resposta do manual do professor, deduzimos uma postura de não contemplar os conhecimentos prévios dos leitores, aliado aos aspectos visuais para entendimento da tirinha, reforçando a ideia de ser necessários aspectos linguísticos como requisitos para a compreensão. As demais atividades que seguem exploram os efeitos de humor, a ironia e o objetivo das duas tirinhas.
Diante de fontes visuais, quando inseridas em sala de aula, devem guiadas para a compreensão de todos os aspectos. Procópio (2007) traz em seu trabalho dados propostos por Riesland (2006) e Oliveira (2006) de como os professores devem conduzir para incluir práticas de letramento visual na sala de aula, a começar por perguntas que levem os alunos a pensar sobre as mensagens que despertam nele diante da imagem, qual a relação entre texto e imagem, qual o público alvo a quem se destina, o que a imagem convida o espectador a pensar, dentre outras reflexões. Feito isso, profissionais e alunos contribuem para um letramento visual em sala de aula.
Diante disso, ao analisarmos uma outra proposta de atividade sugerida pelo livro nos deparamos com uma campanha publicitária exposta a seguir.
A leitura 2 proposta pelo livro didático traz a letra de um jingle, com a explicação que é comum o uso deles em anúncios publicitários por trazer uma mensagem em forma de música. Em seguida, há a proposta de atividades que contemplam apenas aspectos linguísticos das duas leituras. Com base numa segunda proposta de atividade, especialmente numa das questões que abordam a leitura 1, da campanha publicitária, que enfocavam a parte visual dessa campanha, pudemos observar que, para o livro didático, a parte visual era tida como secundária, uma vez que apenas ilustrava o publico alvo a quem se destinava. No entanto, o professor pode conduzir a uma exploração dos aspectos visuais, como as expressões faciais do garota, atrelado aos aspectos linguísticos. Podemos estender a reflexão a pensar sobre porque a campanha publicitária ficou marcada na memória das pessoas que conviveram naquela época.
O livro traz na sua composição muitos recursos visuais, tidos como secundários, uma vez que são colocados como ilustrativos. A propostas de atividades com o uso de gêneros que fazem essa relação de aspectos visuais com o linguístico, por vezes, contemplam a exploração, nas atividades, dos recursos linguísticos, como por exemplo, qual o efeito que determinada expressão linguística tem na tirinha ou anúncio publicitário. Assim, para a condução de letramento visual em sala de aula depende de como o professor pode abordar estes gêneros com os alunos, uma vez que ele tem total liberdade de desprender-se do livro didático para conduzir uma reflexão com base nos aspectos visuais.
REFERENCIAS
BURATINI, Diana
Zwi. Os recursos visuais na compreensão
de leitura em língua estrangeira: reflexões sobre exames de
vestibular. 2004. Dissertação (Mestrado em Linguística) – Instituto de
Estudos da Linguagem, Unicamp, Campinas,
2004.
PROCÓPIO,
Rena Bittencourt. Os recursos visuais no
ensino-aprendizagem de vocabulário em lingua estrangueira. 2007.
Dissertação (Mestrado em Linguística) – Programa de pós-graduação em
Linguística, Universidade Federal de Juíz de Fora, Minas Gerais, 2007.
SERINO,
Paulo (Pres.). Acerta Brasil: Língua
Portuguesa: 6° ano: Ensino fundamental 2. 2. ed. São Paulo: Ática, 2020.
SILVINO, Flávia
Felipe. Letramento visual. Texto Livre: Linguagem e Tecnologia, v. 7, n. 1, p. 167-170, 2014.
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